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Elyseu Visconti Cavalleiro

Elyseu Visconti Cavalleiro, 1939 - 2014

Cineasta, produtor cinematográfico, fotógrafo, desenhista, pintor

Fez parte da inovação do cinema brasileiro nas décadas de 1960 e 1970, após chegar da Europa e Oriente, realizando os longa-metragens Os Monstros de Babaloo e O Lobisomem, O Terror da Meia-Noite, filmes que ficaram mais de dez anos presos pela censura. Realizou dezenas de documentários sobre cultura popular brasileira, cobrindo todo o território nacional. Viajou por mais de 50 países coletando documentos cinematográficos sobre as culturas da África e Oriente. Neto do pintor Elyseu Visconti, realizou 03 documentários sobre a vida e obra de seu avô. Nos últimos anos vivia em sua casa e atelier em Teresópolis, R.J.

Falecido aos 75 anos, em fevereiro de 2014, era carioca de Copacabana, morador de Teresópolis, semi ermitão. Elyseu atravessou a linguagem de sua época e criou junto com Julio Bressane, Rogério Sganzerla, Andrea Tonacci, Neville de Almeida, Zequete, Mojica, Ivan, Carlos Reichenbach, Glauber, Mario Drumond e Geraldo Veloso, um cinema experimental para manifestações criativas e libertárias.

Artista versátil, ELYSEU VISCONTI CAVALLEIRO fez uma poética radical levando seu ritmo e personalidade avassaladora a irromper reações por seu caminho e trajetória. Desenhava, escrevia, pintava, fotografava, filmava, envolvia-se em voos pela ficção fantástica e pela antropologia visual. Autor de ‘Os Monstros de Babaloo’ e ‘O Lobisomem - Terror da Meia Noite’, verdadeiros manifestos realizados no início dos Anos 70 e embargados pela censura da ditadura militar. Foi autor de narrativas visuais e dezenas de documentários sobre artes, folclore e patrimônio cultural.   

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Elyseu Visconti Cavalleiro - Teresópolis, julho de 2011, Foto Anna Marcondes.

Vida

Nasceu no Rio de Janeiro, filho de pais pintores - Yvone Visconti Cavalleiro (filha do pintor italiano radicado no Brasil, o impressionista Eliseu Visconti) e Henrique Campos Cavalleiro (pintor, ilustrador e caricaturista). Seu interesse pelas Artes começou cedo, em casa, com o desenho e a pintura, o que o levaria para a Escola de Belas Artes, onde trabalhou e desenvolveu seu talento com nomes como Oswaldo Goeldi (1895-1961), Roberto Delamonica (1933-1995) e Ivan Serpa (1923-1973). A inquietação dos anos da ditadura, com seus exílios forçados ou voluntários, fez com que Elyseu enveredasse no turbilhão de sua época, com o desenvolvimento do cinema como linguagem em um país considerado subdesenvolvido e sob censura. Fazia parte da turma do rotulado Cinema Marginal, que pode ser reconhecido como Cinema de Invenção e teve seus filmes censurados, foi preso e se auto exilou no interior do nordeste onde teve trabalho desenvolvido com seu professor Gilberto Freyre (1900-1987) e Câmara Cascudo (1898-1986), com quem conviveu e teve todo apoio e amizade. Elyseu fotografou e filmou um Brasil de outras virtudes e paisagens. Seu trabalho socioetnográfico tem grande importância para a nossa antropologia. Como cita Câmara Cascudo, "Elyseu é mito, e de sua obra serão devedores antropólogos, etnólogos, cientistas sociais e professores".

Foi casado com Ana Teresa Lemos Ramos (que exerceu um papel importante em sua vida não só como sua companheira, mas realizando trabalho detalhado de pesquisas para seus primeiros documentários), com quem teve três filhos. Lótus Visconti Holem, Júlio Ramos Visconti Cavalleiro e Aruanã Cavalleiro, que trabalha há mais de quinze anos como editor de cinema, realizou vários programas da TV aberta e coberturas dos Jogos Olímpicos de Londres. Participou da retomada do cinema nacional como editor, possui 28 citações no IMDB por seus trabalhos e uma carreira consolidada. Mora hoje em Chicago com seus filhos. Editor dos documentários “Tabibuia” e “Folia do Divino” de seu pai. 

Elyseu foi colaborador da produtora de filmes Herbert Richers, Fez vários documentários e cine noticiários no Brasil e no mundo. Ele já havia realizado no Paraguay, em 1962, um curta metragem sobre a Arte Barroca para a Embaixada do Brasil. Trabalhou no roteiro do filme 'Morte em Três Tempos', de Fernando Cony Campos. A convite do Itamaraty, viaja pelo Paraguay, Bolívia e Peru divulgando a Arte Popular Brasileira através de palestras e de seus documentários.

Elyseu em sua trajetória foi bolsista do Governo Francês de 1964 a 1965. Realizou conferências e foi assistente de Jean Rouch, diretor de filmes do Museu do Homem, Paris. No período teve também bolsa de estudos do Governo da Tchecoslováquia, onde fez o documentário 'Monoloso' sobre a ocupação nazista em Praga, premiado em festival no qual o realizador Jory Ivens era o presidente do júri. Recebeu o Prêmio Aquisição no VII Festival Internacional de Leipzer - 1965 - Alemanha Oriental. Na sequência viajou para o Oriente realizando vários documentários.

 

Foi Conselheiro do Festival de Brasília, realizou projeções na Assembleia Geral da UNESCO, em Paris. Realizou projeções e palestras no Tropen Museum em Amsterdã 1983, nas Cinematecas do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no Palais de Chailot - Paris, 1983.

Convidado pelo governo francês (Ministere de la Culture et L'ducation, Jacques Laing, em 1992, apresentou dez documentários sobre o Folclore Brasileiro na Galerie Naciolale de Jeu de Paume. Através dea Embaixada Brasileira em Portugal, foi convidado pelo Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal a apresentar a exposição 'Sociofotografias - Temas Etnográficos Brasileiros' composta por 150 fotos ampliadas em cores e a projeção de dez documentários.

Foi convidado a participar do Laboratório de Dramatização de festas e danças do Theatre Du Soleil em Paris, em 1995, por Ariene Minouchkine (diretora) com seus documentários sobre a cultura popular. Na sequência foi convidado a representar o Brasil no Coloquium de Estudos de Sociologia da America Latina na Alemanha - Universidade de Konstanz, onde expôs 130 fotos e acompanhou a projeção de seus documentários.

Seus filmes foram premiados em diversos festivais. Realizou exposições e mostras no pais e exterior. Suas últimas mostras retrospectivas aconteceram em janeiro e julho de 2013, sob a curadoria de Paulo Klein, organização do Instituto Via Cultural, montagem Terra à Vista e realização SESC SP e SESC BH e FECOMÉRCIO.

Faleceu em 11 de março de 2014 no Rio de Janeiro, por complicações derivadas da diabetes.

Referências

  • BELAIR. Direção: Noa Bressane e Bruno Safadi. Brasil, 2009, documentário, 80 min.

  • MASINI, Fernando. Filmes de guerrilha (entrevista de Elyseu Visconti). Revista Trópico, 13 jul. 2009.

  • OS MONSTROS DE BABALOO. Coleção Cinema Marginal - vol. 3. São Paulo, Lume Filmes, Cinemateca Brasileira, 2009, encarte de DVD.

  • PUPPO, Eugênio e HADDAD, Vera. Cinema Marginal e suas fronteiras. Filmes produzidos nas décadas de 60 e 70. São Paulo: Heco Produções, 2001.

  • FERREIRA, Jairo. cinemadeinvenção. Azougue Cultural, Olhos de Cão, 3a edição, 2016.

  • www.viacultural.org.br

Filmografia

Longas

OS MONSTROS DE BABALOO - Ficção, 35 mm, 120 minutos, 1970.

O LOBISOMEM, O TERROR DA MEIA NOITE - Ficção, 35 mm, 100 minutos, 1972

ELYSEU VISCONTI – EM BUSCA DE UMA ATMOSFERA - 52 minutos, Documentário 2004

Documentários Etnográficos

FOLIA DO DIVINO - Documentário, preto e branco, 35mm, 10 minutos, sonoro, 1968.

BOM JESUS DA LAPA, SALVADOR DOS HUMILDES - Documentário, 16 mm, colorido, 10 minutos, sonoro, 1969.

TICUMBI - Documentário, colorido, 35 mm, 10 minutos, som direto, 1975

MARACATU: ESTRELA DA TARDE - Documentário, colorido, 35mm, 10 minutos, sonoro, Recife, 1978.

FEIRA DE CAMPINA GRANDE - Documentário, 35mm, colorido, 10 minutos, 1979.

BOI CALEMBA - Documentário, 35mm, colorido, 10 minutos, 1979.

CAVALO-MARINHO DA PARAÍBA - Documentário rodado na cidade de Bayeux, Estado da Paraíba, 35mm, 15 minutos, 1979

GUERREIRO - Documentário (Eastmancolor), 35mm, 10 minutos, som direto, Cajueiro, Alagoas, 1981.

PASTORIL - Documentário, 35mm, 7 minutos, 1982.

CHICO TABIBUIA – ALMA DOURADA - Documentário, colorido, 28’43 minutos, 1998.

O PALHAÇO NA FOLIA DE REIS - Documentário, colorido, 11 minutos, 1998.

MARRA-PAIÁ - Documentário, 35 mm, colorido, 25 minutos, sonoro, 1999.

SÃO BENEDITO – O SANTO PRETO DE PARATY - Documentário, 35 mm, colorido, 08 minutos, sonoro, 2003.

FESTA DO DIVINO – PARATY - Documentário, 35 mm, colorido, 16 minutos, sonoro, 2003.

Documentários

ARQUITETURA DE PARATY - Documentário, 35 mm, colorido, sonoro, 2002

PARATY NOTURNO - Documentário, 35 mm, colorido, sonoro, 2002

Viagem ao Oriente, 35  mm, colorido, serie, sonoro, 1967

Doc Folclórico Brasileiro, 35 mm, colorido, sonoro 23 minutos, 2002

Encontro das Folias de Reis em Bangu

Os Palhaços da Folia de Reis de Macuco

As Folias de Minas Gerais

As Folias de Além Paraíba

Jornada da Guia

Folia de Reis em Campo Grande

Danças e Histórias do Nordeste Brasileiro, PB, 6 minutos, 2004

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