EWERTON BELICO
Ewerton Belico é programador, educador, roteirista e diretor. É um dos responsáveis pelo forumdoc.bh - Festival do filme documentário e etnográfico de Belo Horizonte. Foi co-roteirista e codiretor do longa-metragem Baixo Centro, vencedor da XXI Mostra de Tiradentes.
Atualmente prepara a mostra A porta do Mundo, sobre a música sertaneja no cinema brasileiro, para o CCBB.
Ewerton acompanhou o trabalho realizado pelo Instituto, participando do debate sobre cinema de invenção em julho de 2013 no SESC Palladium, BH, com a presença de Elyseu e dos também convidados Helena Ignez, Vera Terra e Geraldo Veloso, com a mediação do crítico e curador Paulo Klein. Como nosso convidado para esta mostra, trouxe sua importante contribuição para a leitura do trabalho do cineasta.
Critico de cinema e estudioso da etnografia brasileira, Ewerton conta sobre o cinema de Elyseu no Cine Podcast e comenta 3 documentários apresentados no encerramento da mostra online dia 29 de abril.
Na foto, Ewerton no 21º Festival de Cinema de Tiradentes.
Para o Podcast CINEMA DE INVENÇÃO Ewerton fez uma leitura inicial do trabalho de ELyseu.
Primeiramente gostaria de colocar que esse trabalho realizado pelo Instituto em 2012, de recuperação do material de Elyseu Visconti Cavalleiro - pois as cópias se encontravam em uma situação precária, praticamente apenas o Ticumbi circulava, foi um trabalho muito importante para permitir que todos pudéssemos ter hoje uma noção mais global da trajetória e pensamento de Elyseu.
Foi um grande prazer conhecer Elyseu e ao conhecê-lo ver que, essa vocação artística multifacetada, vulcânica, criativa, que está expressa nos filmes dele era também a tempera do próprio homem Elyseu. Não apenas o que os filmes dele eram, mas o que ele era também, uma pessoa de uma curiosidade onívora, grande contador de histórias, uma pessoa de uma vida riquíssima, de uma erudição assustadora, de um conhecimento que trafegava por universos tanto populares quanto eruditos e isso de alguma forma, se expressa nas múltiplas faces do seu trabalho como realizador.
Pensando exclusivamente na sua expressão cinematográfica, sua personalidade criativa e complexa estava expressa em seu cinema e torna compreensível à primeira vista, aquilo que à olhos mais leigos, chamaria atenção ao que a um primeiro momento seria uma ruptura é na verdade uma grande continuidade. A continuidade de um cinema que parecia ter transitado de uma vocação mais experimental ou como Jairo dizia, de uma vocação de um Cinema de Invenção, para uma vocação documental. Já com um olhar mais atento, podemos perceber que essa transição plasma uma mesma vocação de pensamento, que se expressa sempre com uma ousadia de olhar muito inusual, que podemos ver em trabalhos etnográficos de Elyseu como em Ticumbi ou em Boi Calemba, citando dois exemplos, um olhar que recusa um distanciamento ou um alheamento de um documentário mais tradicional. Também se expressa um interesse pela música e pelo aspecto performático, pelos corpos que performam a manifestação da cultura popular. Interesse este que também vemos nos seus longas metragens ficcionais.
Ou seja, aquilo que parece ser uma cisão, um hiato, na verdade são diferentes versões de interesses criativos de uma mesma vocação criativa e artística que demonstrava uma compreensão profunda do Brasil. Esse é o traço do cinema de Elyseu. Esse desejo, um anseio de trabalhar o que borbulha para além da casca do Brasil oficial.
Ewerton Belico, crítico de cinema para Via Cultural, abril de 2021